quinta-feira, 31 de março de 2011

Consultório de Psicologia Centro de BH

CONSULTÓRIO DE PSICOLOGIA

Atendimento Psicológico: Adolescente & Adulto

1ª Entrevista / Consulta, ligar e marcar sua hora: (31) 3271-0003.

Preços acessíveis a todos.

ENDEREÇO É:
Av. Afonso Pena, 262 - Sl. 2017 - Ed. Mesbla - Centro
Cep. 30130-001 - Belo Horizonte / MG
E-mail: ajavilapsique@yahoo.com.br
Tel. (31) 3271-0003

Alexandre J. Ávila - Psicólogo Clínico
CRP: 4 / 32676

quarta-feira, 30 de março de 2011

Atendimento Psicológico: Adolescente & Adulto


1ª Entrevista / Consulta, GRATUITA 
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"A sede de conhecimento parece ser inseparável da curiosidade sexual"(S. Freud)
" O pensamento só entra em ação quando ele é provocado pelo desejo"  (Rubens Alves)
"Quando na medida do possível passamos a nos conhecer por intermédio da psicoterapia, seguimos nossa estrada subjetiva invisibilizando as pedra de Carlos Drummond De Andrade".(Alexandre J. Ávila)

Saber escutar pelo benefício da dúvida, essa é a precariedade da pós-modernidade". (Alexandre J. Ávila)

Não nascemos com as escrituras dos nossos desejos. Então, temos que escrevê-los, e essas escritas requerem esforços. Quanto mais esforços fizermos para apreciar e perceber a realidade, maiores e mais detalhados serão
nossos desejos.
(Alexandre J. Ávila)
"Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como.
(Friedrich Nietzsche)

"Onde falta simpatia, a compreensão não virá
facilmente".
(Sigmund Freud)
"O segredo do sucesso é a constância de objetivo". 
(Benjamin Disraeli) 

"Perder tempo é um castigo insuportável"
(Quin Guanshu) 
"A arte da conversação consiste no exercício de duas qualidades superiores: você deve estabelecer contato e deve simpatizar; deve possuir ao mesmo tempo o hábito de comunicar e o hábito de ouvir. A união é rara, mas irresistível". 
(Benjamin Disraeli) 
"Parece absurdo que em uma sociedade com uma comunicação altamente sofisticada soframos muitas vezes de escassez de ouvintes.
(Erma Bomdeck)

VIVA OS PSICÓLOGOS!!!
"Acho a televisão muito educativa. Todas as vezes que alguém liga o aparelho, vou para outra sala e leio um livro".
(Groucho Marx) 

"Uma velha coruja vivia em um carvalho,
quanto mais ela escutava, menos falava;
quanto menos falava, mais escutava,
ah, se todos os homens fossem como essa ave sábia"!
(Revista Punch)

A CADA DIA TENTO SER ESSA AVE... (Alexandre J. Ávila)

" Se você pensa que a educação é uma coisa cara, tente a ignorância". (Derek Bok)

"Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito".(Aristóteles)
"Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo". (Jean-Paul-Sartre) 

ESCUTATÓRIA
Rubem Alves
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.
Escutar é complicado e sutil. Diz o Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma“. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê porque as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. A gente não é cego. As árvores e as flores entram. Mas - coitadinhas delas - entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver e preciso que a cabeça esteja vazia.
Faz muito tempo, nunca me esqueci. Eu ia de ônibus. Atrás, duas mulheres conversavam. Uma delas contava para a amiga os seus sofrimentos. (Contou-me uma amiga, nordestina, que o jogo que as mulheres do Nordeste gostam de fazer quando conversam umas com as outras é comparar sofrimentos. Quanto maior o sofrimento, mais bonitas são a mulher e a sua vida. Conversar é a arte de produzir-se literariamente como mulher de sofrimentos. Acho que foi lá que a ópera foi inventada. A alma é uma literatura. É nisso que se baseia a psicanálise...) Voltando ao ônibus. Falavam de sofrimentos. Uma delas contava do marido hospitalizado, dos médicos, dos exames complicados, das injeções na veia - a enfermeira nunca acertava -, dos vômitos e das urinas. Era um relato comovente de dor. Até que o relato chegou ao fim, esperando, evidentemente, o aplauso, a admiração, uma palavra de acolhimento na alma da outra que, supostamente, ouvia. Mas o que a sofredora ouviu foi o seguinte: “Mas isso não é nada...“ A segunda iniciou, então, uma história de sofrimentos incomparavelmente mais terríveis e dignos de uma ópera que os sofrimentos da primeira.
Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.“ Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. No fundo somos todos iguais às duas mulheres do ônibus. Certo estava Lichtenberg - citado por Murilo Mendes: “Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas.“ Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos, estimulado pela revolução de 64. Pastor protestante (não “evangélico“), foi trabalhar num programa educacional da Igreja Presbiteriana USA, voltado para minorias. Contou-me de sua experiência com os índios. As reuniões são estranhas. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, como se estivessem orando. Não rezando. Reza é falatório para não ouvir. Orando. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas. Também para se tocar piano é preciso não ter filosofia nenhuma). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito. Pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que julgava essenciais. Sendo dele, os pensamentos não são meus. São-me estranhos. Comida que é preciso digerir. Digerir leva tempo. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se falo logo a seguir são duas as possibilidades. Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava eu pensava nas coisas que eu iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.“ Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.“ Em ambos os casos estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.“ E assim vai a reunião.
Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos passei uma semana num mosteiro na Suíça, Grand Champs. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda. Velhas construções, não me esqueço da água no chafariz onde as pombas vinham beber. Havia uma disciplina de silêncio, não total, mas de uma fala mínima. O que me deu enorme prazer às refeições. Não tinha a obrigação de manter uma conversa com meus vizinhos de mesa. Podia comer pensando na comida. Também para comer é preciso não ter filosofia. Não ter obrigação de falar é uma felicidade. Mas logo fui informado de que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 7 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci de medo. Mas obedeci. O lugar sagrado era um velho celeiro, todo de madeira, teto muito alto. Escuro. Haviam aberto buracos na madeira, ali colocando vidros de várias cores. Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminado por algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo. Uns poucos bancos arranjados em “U“ definiam um amplo espaço vazio, no centro, onde quem quisesse podia se assentar numa almofada, sobre um tapete. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio, nuvens escuras cobriam o céu e corriam, levadas por um vento impetuoso que descia dos Alpes. A força do vento era tanta que o velho celeiro torcia e rangia, como se fosse um navio de madeira num mar agitado. O vento batia nas macieiras nuas do pomar e o barulho era como o de ondas que se quebram. Estranhei. Os suíços são sempre pontuais. A liturgia não começava. E ninguém tomava providências. Todos continuavam do mesmo jeito, sem nada fazer. Ninguém que se levantasse para dizer: “Meus irmãos, vamos cantar o hino...“ Cinco minutos, dez, quinze. Só depois de vinte minutos é que eu, estúpido, percebi que tudo já se iniciara vinte minutos antes. As pessoas estavam lá para se alimentar de silêncio. E eu comecei a me alimentar de silêncio também. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. E música, melodia que não havia e que quando ouvida nos faz chorar. A música acontece no silêncio. É preciso que todos os ruídos cessem. No silêncio, abrem-se as portas de um mundo encantado que mora em nós - como no poema de Mallarmé, A catedral submersa, que Debussy musicou. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Me veio agora a idéia de que, talvez, essa seja a essência da experiência religiosa - quando ficamos mudos, sem fala. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto... (O amor que acende a lua, pág. 65.)
_____________
Fonte: http://rubemalves.locaweb.com.br/hall/wwpct3/newfiles/escutatoria.php

quarta-feira, 23 de março de 2011















terça-feira, 22 de março de 2011


Da Entrada em Análise ao Sujeito do Inconsciente - Alexandre J. Ávila

Resumo
Para o leitor, nada contribui tanto para compreensão de um trabalho, quando este tem
um objetivo claro; ponto sobre o qual nossa alma possa fixar nosso olhar intelectual.
A presente monografia tem o propósito de discutir a questão da entrada em análise e
seu processo, utilizando por conseguinte, os pioneiros da teoria psicanalítica, a saber:
Sigmund Freud e Jacques Lacan. Não obstante, seus seguidores também iram contribuir para
melhor dialogarmos nas questões que se farão presentes.
Sobretudo, nosso trabalho tem a intenção de ressaltar todo um arcabouço de que
carece um processo analítico – uma vez que, o analista dependerá das ferramentas que lhe
compete para condução de uma análise, no intuito de proporcionar as condições para que
emerge o sujeito do inconsciente.
O inconsciente, as suas formações e a transferência tanto em Freud como em Lacan,
devem sempre ser pensados como um abalo às certezas da consciência, descentralizando o
sujeito, mas ao mesmo tempo, revelando-o e compondo as mesmas, uma vez pontuadas,
interpretadas e elaboradas, a única via para o autoconhecimento e para o exercício da
liberdade maior.
Veremos que, no que se refere ao analista, cabe-lhe contudo, escutar aquilo que em
nenhum outro lugar se possa falar. Aquilo que faz sofrer, a fala do desejo, a fala marcada pela
falta.
Em suma, nosso trabalho é uma tentativa, o mesmo, uma possibilidade de trazer à tona
uma coerência de raciocínios e de idéias, que portanto, poderá ser para o leitor um norte, ou
mesmo um caminho teórico rumo a prática.
Finalmente, se o leitor o fizer sujeito da leitura, longe de ser um prisioneiro da mesma,
poderá, apreender, sobretudo tecer seus próprios fios teóricos e práticos, criando sua própria
rede lógica, e será capaz de produzir por conseguinte, sua própria voz, no que será transmitido
do presente texto.
Palavras chaves: Psicanálise; processo analítico; transferência; entrada em análise; sujeito do
inconsciente.


Sumário
1 Introdução ............................................................................................... 8
2 Capítulo 1 – Do início de um tratamento analítico .................................10
3 Capítulo 2 – Do processo analítico de Freud a Lacan ............................15
4 Capítulo 3 – Considerações Finais ......................................................... 21
5 Referências ............................................................................................. 23


Introdução
Do presente trabalho, podemos dizer que este terá como objetivo, fecundar no leitor alguns
pontos fundamentais do processo analítico, pensando a própria relação analítica, como sendo
o veículo no qual o analista deverá fazer funcionar os modus operandi da psicanálise.
Se o desejo é a busca do objeto perdido, e a demanda é o pedido de satisfação segundo
Quinet, logo, deixemos claro para nossos leitores, que esta monografia, passará por esse
garimpado desejo e por essa demanda de sentido, desencadeadora de satisfação.
Não podemos negar que, da entrada em análise, o sujeito do inconsciente, é o cerne da
experiência analítica, e tal experiência é subordinada sobretudo da chamada transferência.
Pois, é na transferência, que o sujeito vivência afetivamente a relação analítica, ou seja, o
analisante revive, sem querer, os sentimentos experimentados no passado, amores e ódios,
colocando em jogo os significantes que ele havia recalcado, isto é, os elementos de sua vida
que determinam seu comportamento e dos quais não tem consciência.
Numa análise só há lugar para um sujeito: o sujeito do inconsciente que fala pela boca do
analisante. E suas palavras só se operam na transferência.
No primeiro capítulo, iremos discutir o início do tratamento analítico a partir da
corrente freudiana, utilizando como referências os artigos: Sobre o Início do Tratamento
(Novas Recomendações Sobre a Técnica da Psicanálise I) (1913), A Dinâmica da
Transferência (1912) Observações Sobre o Amor Transferêncial (Novas Recomendações
Sobre a Técnica da Psicanálise III) (1914-1915) e Lembrar, Repetir e trabalhar através
(1914). Para tanto, também nos reportaremos em benefício ao presente capítulo aos textos:
Entrevistas Preliminares: Entrada para uma Psicanálise (1994) de Geraldo Martins e
Diferença e Repetição (1988) de Gilles Deleuze.
Já no segundo capítulo, trabalharemos continuamente o processo analítico, no decurso
de Sigmund Freud a Jacques Lacan, uma vez que, o mesmo desempenhou um verdadeiro eco
dos trabalhos de Freud. Lacan, como um renovador freudiano, traz para a psicanálise
elementos estruturalistas, criando uma clínica apta a entender o sujeito pós-moderno.
Portanto, assim o fez, ao propor a condução da análise além do complexo de Édipo, das
significações paternas consagradas e de seus representantes.
A saber, iremos nos servir para melhor entendermos essa passagem de Freud a Lacan,
nos textos: A transferência de Freud a Lacan (1988) Jacques-Alain Miller, Lembrar, repetir e
trabalhar através (1914) e Além do princípio de prazer (1920) Sigmund Freud, Amanhã, a

Psicanálise (1991) Michel Silvestre, A descoberta do inconsciente: do desejo ao sintoma
(2008) e As 4+1 condições da análise (2005) Antônio Quinet.
Enfim, a nossa intenção é de que no decorrer do nosso trabalho científico, o leitor se
satisfaça de sua demanda de saber, ou seja, de seu pedido de satisfação. Que os conceitos que
irão ser ditos, se façam entender e que deixe de ser uma incógnita, se tornando assim
compreensivo a todos interessados no tema colocado.

Do início de um tratamento analítico
Neste capítulo trataremos a partir de Sigmund Freud o início de um tratamento tendo
em vista seus artigos: Sobre o Início do Tratamento (Novas Recomendações Sobre a Técnica
da Psicanálise I) (1913), A Dinâmica da Transferência (1912) Observações Sobre o Amor
Transferêncial (Novas Recomendações Sobre a Técnica da Psicanálise III) (1914-1915) e
Lembrar, Repetir e trabalhar através (1914). Para tanto, também nos reportaremos em
benefício ao presente capítulo aos textos: Entrevistas Preliminares: Entrada para uma
Psicanálise (1994) de Geraldo Martins e Diferença e Repetição (1988) de Gilles Deleuze.
Um tratamento já de inicio nos coloca no espaço da clínica psicanalítica, frente aos
sintomas trazidos pelos pacientes, ou seja, aquilo que os molestam, incomodam, o que os
provocam desprazer e dor, razão pela qual as pessoas consultam os psicanalistas. E, para que
seja possível a entrada em análise, é necessário que o sujeito tenha razões para ir ao analista,
pois um sintoma, já é um sinal que algo não está funcionando bem. Entretanto, o sintoma
pode não ser somente patológico, ou seja, não apenas fonte de sofrimento; pode ser uma saída
na saúde que garanta certa ordem no sujeito já que, sua constituição é inevitável e necessária
para o funcionamento do psiquismo humano.
O início de um tratamento é sempre um desafio de um material desconhecido trazido
pelo paciente. A primeira demanda nem sempre é decifrá-lo, nem a premência em revelar o
sentido que o sofrimento oculta. O que se espera, em geral, é um efeito de alívio, ou quem
sabe, sua remoção. (MARTINS, 1994, p. 7)
FREUD (1913), inicialmente nos revela da importância em só aceitar um paciente
provisoriamente, por um período de uma ou duas semanas. Entretanto vale ressaltar que, seus
atendimentos na época, eram realizados todos os dias, exceto domingos e feriados oficiais, e
que na atualidade realiza-se somente um atendimento por semana geralmente.
Neste contexto FREUD (1913) adverte que, caso se interrompe um tratamento dentro
deste período inicial de uma ou duas semanas, poupa-se assim o paciente da impressão
angustiante de uma alternativa de cura que falhara. É em tal procedimento preliminar que, se
instaura o início de uma psicanálise devendo assim conformar-se às regras desta.
No início do tratamento, os pacientes geralmente segundo Freud, indagam
importunamente sobre o tempo que o analista precisará para aliviar-lhes de seus problemas.
FREUD (1913) esclarece este pormenor numa seguinte historieta:
Nossa resposta assemelha-se à resposta dada pelo Filósofo ao
Caminhante, na fábula de Esopo. Quando o caminhante perguntou

quanto tempo teria de jornada, o Filósofo simplesmente respondeu
Caminha! e justificou sua resposta aparentemente inútil, com o
pretexto de que precisava saber a amplitude do passo do Caminhante
antes de lhe poder dizer quanto tempo à viagem duraria. (FREUD,
1913, p. 143)
Esse poderá ser um recurso por hora, mas FREUD (1913) nos adverte que no percurso do
tratamento, o neurótico pode facilmente alterar o passo e, às vezes, fazer somente avanços
demasiadamente lentos. Neste sentido FREUD (1913) afirma que, tal indagação referente à
duração provável de um tratamento, é praticamente irrespondível.
Por esta razão, o estudioso afirma que, a psicanálise é sempre questão de longos
períodos de tempo, ou seja, de meio ano ou de até de anos inteiros, enfim, de períodos bem
maiores do que o paciente esperava. É nosso dever, portanto, dizer-lhes isso antes que ele se
decida finalmente sobre o tratamento. (FREUD, 1913, p. 145)
O tempo é condição sine qua non num tratamento, e nem por isso Freud obrigara seus
pacientes a continuar o tratamento por um certo período de tempo, de modo que o mesmo é
enfático em dizer que:
Permito a cada qual interrompê-lo quando quiser. Mas não escondo
dele que, se o tratamento é interrompido após somente um pequeno
trabalho ter sido feito, ele não será bem sucedido, e poderá facilmente,
como uma operação inacabada, deixá-lo em estado insatisfatório.
(FREUD, 1913, p. 145)
Todavia, neste procedimento inicial FREUD (1913) salienta que, geralmente os pacientes em
tratamento inicial, não raro encontram dificuldades em falar, embora que toda a extensão da
história de sua vida e da história de sua doença se encontre aberto para varias escolhas.
Também, não devemos ainda segundo Freud, atender solicitações dos pacientes, sobre o que
eles devem falar, ressaltando que não só em fases iniciais do tratamento, mas, em fases
posteriores, para desse modo se ter em mente o que está realmente envolvido. (FREUD, 1913)
Diante desta realidade, geralmente há uma insistente resistência por parte do paciente,
Freud então nos informa que: uma forte resistência adiantou-se, a fim de defender a neurose;
temos de aceitar o desafio, então e aí, e enfrentá-la. (FREUD, 1913, p. 152) Então constata-se
como acima dito, que, existe quase que sempre uma resistência contra a análise por parte do
paciente, e desse modo o analista se encontra compelido segundo FREUD (1913), a realizar
as admissões esperadas ou a revelar uma primeira amostra de seus complexos. Em A
Dinâmica da Transferência (1912), Freud diante de tal situação diria que:

a resistência acompanha o tratamento passo a passo. Cada associação
isolada, cada ato da pessoa em tratamento tem de levar em conta a
resistência e representa uma conciliação entre as forças que estão
lutando no sentido do restabelecimento e as que se lhe opõem, já
descritas por mim. (FREUD, 1912, p. 114-115)
O ato psicanalítico primeiro, é suportar a transferência, já que amiúde tais
circunstâncias tendem para uma situação na qual, todo conflito deverá ser combatido na esfera
da transferência. Não foi à toa que FREUD (1913) assinalou que, somos assim obrigados a
começar por descobrir esta transferência; e um caminho que dela parte fornecerá rápido
acesso ao material patogênico do paciente. (FREUD, 1913, p. 153) Quando se estabelece a
relação transferêncial, ou o amor de transferência, estranha e misteriosamente, tornamo-nos
depositários de todo esse mundo confuso e sofrido que começa a ser evocado, repetido e
atualizado no analista no decorrer das sessões.
No momento em que se instala a transferência do analisando, em contrapartida,
consciente ou inconscientemente, se instala a transferência do analista. Segundo Freud,
quanto mais claramente o analista permite que se perceba que ele está à prova de qualquer
tentação, mais prontamente poderá extrair da situação seu conteúdo analítico. (FREUD
1914-1915, p. 183-184) Daí em diante, o demandante terá a possibilidade de viver plenamente
esse processo transferêncial em análise; a partir destas, ela própria abrirá o caminho para as
raízes infantis de seu amor. (FREUD, 1914-1915, p. 184)
Tais pressupostos provenientes das peculiaridades do tratamento deverão ter sua
importância particular no caso a caso. Neste momento, as vicissitudes de cada processo
psicanalítico são impares e remontam direta e explicitamente às dificuldades emocionais do
analisando como também depende direta mas subliminarmente das dificuldades emocionais
do analista.
Neste contexto, respectivamente vale lembrar, que se deve ter um firme domínio deste
amor transferêncial, uma vez que esse deverá ser tratado como algo irreal como uma
circunstância que se deve atravessar e remontar às suas origens inconscientes e que pode
ajudar a trazer tudo que se acha muito profundamente oculto na vida erótica da paciente para
sua consciência e, portanto, para debaixo de seu controle.
O material com que se inicia o tratamento é em geral segundo FREUD (1913),
indiferente, a história da vida do paciente, ou a história de sua doença, ou suas lembranças de
infância. Mas, em todos os casos, deve-se deixar que o paciente fale e ele deve ser livre para
escolher em que ponto começará. (FREUD, 1913, p. 149) Neste parâmetro, no artigo

Lembrar, repetir e trabalhar através (1914) Freud alerta para o fato de que, quanto maior for
a resistência, menor será a memorização e maior será a atuação.
Freud neste texto acena que, quando a transferência se torna excessiva ou hostil, a
resistência é que determina o material que será repetido. E repetir sob a forma de resistência é
repetir suas inibições e seus traços patológicos de caráter. Repete para não recordar. Repete
seus sintomas, como forma de afastar seu material do passado e mantê-lo firme ao presente.
Ainda segundo FREUD (1914), devemos desarmar esta parede de resistência para que o
paciente possa ter acesso as suas recordações, ao seu passado.
Em A Dinâmica da Transferência (1912) Freud afirma que:
No ponto em que as investigações da análise deparam com a libido
retirada em seu esconderijo, está fadado a irromper um combate; todas
as forças que fizeram a libido regredir se erguerão como resistência ao
trabalho da análise, a fim de conservar o novo estado de coisas.
(FREUD, 1912, p. 114)
Ou seja, FREUD (1912) quis esclarecer, a questão de que no decorrer do processo analítico,
as forças que fizeram a libido se tornar próxima à consciência, podem irromper em luta contra
a recordação e erguer uma forte resistência a fim de manter a idéia recalcada. A libido que
estava à disposição do ego, sempre teve um correspondente no inconsciente que exercia sobre
ela uma atração. Com a finalidade de liberar esta libido da força que a liga aos complexos
inconscientes, e esta atração deverá ser vencida.
O papel da resistência no amor de transferência por exemplo, de acordo com Freud é,
pois, muito grande, mas não foi criado pela resistência. Esta o descobre e o explora, não
contesta sua autenticidade. Referente ao analista Freud ressalta que, ele deve reconhecer que o
enamoramento do paciente é induzido pela situação analítica e não deve atribuir aos seus
encantos de sua própria pessoa. (FREUD, 1914-1915, p. 178) Vale lembrar que, o amor de
transferência é uma repetição, pois todo amor é uma repetição, visto que, não existe amor que
não reproduza protótipos infantis.
FREUD (1914), chama atenção para o fato de que o paciente pode ter seus sintomas
aumentados temporariamente como forma de resistência, como uma tentativa de se defender
da recordação, ou até mesmo o paciente pode apresentar novos e profundos impulsos,
diferentes daqueles que se apresentam no inicio do tratamento. Estes impulsos podem vir a ser
repetidos.
Com a resistência superada, o paciente poderá entrar em contato, de forma consciente
ou não, com o material recalcado e, assim, ter a oportunidade de elaborar tal conteúdo. Pois,
FREUD (1912) nos assegura que, a transferência surge como a resistência mais poderosa ao

tratamento, enquanto que, fora dela, deve ser encarada como veículo de cura e condição de
sucesso. (FREUD, 1912, p. 112)
Pensar na transferência como sendo também antes de tudo uma repetição, uma
repetição pensada como sintoma, que se apresenta na clínica de forma a ser desvelada, é, o
que Deleuze nos propõe ao afirmar que: se a repetição nos torna doentes, é também ela que
nos cura. (DELEUZE, 1988, p. 48)
Entendemos neste capítulo que, ser psicanalista é ter o manejo da transferência e,
acima de tudo, poder suportá-la. Porém, a transferência é, em última instância, um feixe de
repetições voltados maciçamente para uma mesma e única figura: a figura do analista.
Passemos ao capítulo seguinte que tratará continuamente da entrada do sujeito em
análise, não só em Freud, mas também em Lacan.

Do processo analítico de Freud a Lacan
A relação analítica é o veículo por meio do qual se processam os tratamentos
psicanalíticos. O destino de cada análise resulta das características pessoais do paciente e do
analista, das reedições de vivências passadas que ambos trazem para situação presente e da
interação desses elementos com a relação atual, única e particular, que eles estabelecem entre
si. Dessa forma, pode-se compreender a complexidade que envolve uma relação composta de
tantos fatores que se superpõem, sucedem, complementam ou antagonizam.
Para efeito de sistematização, nossa proposta no segundo capítulo, é expor
continuamente alguns conceitos do criador da psicanálise: Sigmund Freud e também
contribuições de Jacques Lacan, visto que o estudioso se intitulava freudiano. Assim,
sobretudo utilizaremos como referência: A transferência de Freud a Lacan (1988) Jacques-
Alain Miller, Lembrar, repetir e trabalhar através (1914) e Além do princípio de prazer
(1920) Sigmund Freud, Amanhã, a Psicanálise (1991) Michel Silvestre, A descoberta do
inconsciente: do desejo ao sintoma (2008) e As 4+1 condições da análise (2005) Antônio
Quinet.
FREUD (1920) no capítulo III de Além do princípio de prazer, enfatiza que:
A psicanálise era então, primeiro e acima de tudo, uma arte
interpretativa. Uma vez que isso não solucionava o problema
terapêutico, um outro objetivo rapidamente surgiu à vista: obrigar o
paciente a confirmar a construção teórica do analista com sua própria
memória. Nesse esforço, a ênfase principal reside nas resistências do
paciente: a arte consistia então em descobrir-las tão rapidamente
quanto possível, apontando-as ao paciente e induzindo-o, pela
influência humana – era aqui a sugestão, funcionando como
transferência, desempenhava seu papel –, a abandonar suas
resistências. (FREUD, 1920, p. 29)
Neste início é importante dizer da importância de Anna O., a paciente histérica, que
inventou o termo talking cure, a cura pela palavra; que de acordo com Miller: Freud apenas o
recolheu de sua boca. Foi ela quem o guiou à entrada da psicanálise. (MILLER, 1988, p. 58)
Ou seja, é neste momento que Freud propõe aos pacientes em análise que digam o que vier a
mente, assim o mesmo nomeia tal procedimento como: associação livre.
Por conseguinte, Silvestre afirma: Que o analisante, como Freud preconizava, creia
um pouco no inconsciente e observe com cuidado os lapsos, atos falhos e interpretação que
seu analista não pode deixar de lhe fornecer. (SILVESTRE, 1991, p. 21)

Desse modo, também já nos enveredando rumo a Lacan, Quinet coloca que, o
analista, prestando-se a esse lugar do Outro para o sujeito, faz com que, através da
associação livre, o inconsciente se presentifique e possa ser decifrado pelo próprio sujeito.
(QUINET, 2008, p. 45) Então de acordo com a definição do autor, podemos pensar que o
inconsciente se atualiza na transferência; lacanianamente falando.
Sobre isso MILLER (1988) descreve que:
A transferência tem seu valor porque permite ver o funcionamento de
um mecanismo inconsciente na própria atualidade da sessão. Por isso
Freud pode aconselhar, a todo terapeuta que esteja começando, que
interprete somente quando a transferência já teve início, pois a
emergência da transferência assinala que os processos inconscientes
foram ativados. (MILLER, 1988, p. 62)
Com base nesses princípios, a analise se faz, em certo sentido, graças à transferência e,
em outro sentido, apesar da transferência. Tal arranjo teria segundo MILLER (1988) a
importância em captarmos assim dois aspectos da transferência: o aspecto mediante o qual se
identifica com a repetição inconsciente e o aspecto mediante o qual se identifica, pelo
contrário, com a resistência.
No tocante à repetição na transferência de acordo com a definição freudiana é que:
logo notamos que a transferência propriamente é apenas um pedaço (Stück) de repetição e
que a repetição é a transferência do passado esquecido não somente sobre o médico, mas
também sobre outros aspectos da situação atual. (FREUD, 1914, p. 3)
Então, é na repetição que o analista irá perceber a resistência do analisante, ou seja, o
paciente irá atuar (acting out), repetindo à atuação. Assim, Freud ressalta essa questão ao
dizer que: aprendemos que o paciente repete ao invés de recordar e repete sob as condições
da resistência. (FREUD, 1914, p. 3)
É de posse dessa realidade, da sutileza da escuta do analista, é que podemos entender
que é, fundamental a importância da associação livre, pois essa é a estrada do inconsciente
rumo ao consciente, ou seja, o modus operandi de um processo analítico. Pois é na associação
livre que o sujeito irá associar os significantes de sua fala, assim, estruturando a linguagem
segundo os preceitos lacanianos.
É na sua douta ignorância, que o analista irá promover os significantes ditos pelo
paciente, uma vez que: a posição do analista não é a de saber, nem tampouco a de
compreender o paciente, pois se há algo que ele deve saber é que a comunicação é baseada
no mal-entendido (QUINET, 2005, p. 26) Vale lembrar que, o paciente em associação livre, é
um sujeito dirigindo-se ao analista cuja presença nas sessões também comumente será uma

condição sine qua non para fazer o inconsciente existir. Pois, enquanto o inconsciente não se
manifesta na fala do paciente, o mesmo não tem sua entrada em análise.
Na dimensão dessa relação analítica, o Outro (o analista) equipara ao Outro
primordial, respectivo ao Outro-que-tem. Assim sendo, QUINET (2008) esclarece que:
O Outro-que-tem não é marcado pela falta, eis por que seu atributo é a
onipotência, cuja insígnia constitui o traço unário do ideal do eu que é,
de fato, sempre um traço Outro não barrado, I(A), ao qual o sujeito se
aliena através da identificação para se ver amável, digno de amor. A
onipotência nunca é, pois, um traço do sujeito e sim do Outro. É
justamente pelo fato de a onipotência ser do Outro, enquanto Outro
que tem, que o sujeito instala aí sua demanda. No amor de
transferência (na verdade uma demanda de amor) o analista é
chamado a encarnar não apenas o sujeito suposto saber mas também o
sujeito suposto poder. (QUINET, 2008, p. 106)
Neste sentido, o Outro será o lugar do inconsciente a que o analista é chamado a
ocupar, vindo representar todos aqueles que ocuparam o lugar do Outro na vida do sujeito. É
em tal momento que podemos também nos reportar aos dizeres de FREUD em (1920) de que,
quando as coisas atingem essa etapa, pode-se dizer que a neurose primitiva foi então
substituída por outra nova, pela ‘neurose de transferência’. (FREUD, 1920, p. 29)
Na ótica lacaniana, MILLER (1988) mensura que o sujeito suposto saber é para os
analistas o pivô no qual se articula tudo o que se relaciona com a transferência. Desse modo, o
referido suposto saber é o lugar que o grande Outro irá ocupar, daí o inconsciente vai se situar
nesse lugar que o analista será colocado.
Ou seja, se, por acaso, há algum outro ao qual o discurso se dirige, este é o grande
Outro, alteridade irredutível. Pois, este Outro é tido como onipotente, que é relativo com a
demanda que o sujeito dirigi ao Outro que tem. Em contra partida Quinet, coloca o outro lado
da moeda referente ao Outro que se apresentar ao sujeito como o Outro da falta, descrevendo
que:
‘poder contar com o Outro’ – eis o que almeja o neurótico. Se eu
conto para ele, ou seja, se eu não sou à volta pulada no desejo do
Outro, eu posso contar com ele. O Outro com que o sujeito não pode
contar é o Outro da falta – e falta justamente quando o sujeito mais
precisa: na angústia, sinal que, por estrutura, o Outro falta. Para não se
deparar com a falta estrutural do Outro, o neurótico reclama,
reivindica, exige que o Outro não lhe falte. (QUINET, 2008, p. 108)
O desejo humano é, certamente, sexual, mas se sustenta em traços e é a busca
repetitiva e incessante desse primeiro traço enquanto percepção que, no marco freudiano,

alcançou-se a sua realização. E neste contexto podemos observar, o quanto Freud é taxativo
em dizer que: a partir das reações de repetição que se mostram na transferência, os
conhecidos caminhos conduzem para o despertar das lembranças, que sem esforço se instala
após a superação das resistências. (FREUD, 1914, p. 5)
Daí, é que a transferência se faz presente e interpretável, saber, segundo Silvestre:
interpretar a transferência vem a ser, portanto, interpretar a repetição sob seus disfarces no
famoso “aqui e agora” da sessão. (SILVESTRE, 1991, p. 71) Ao analista cabe escutar na
sessão aquilo que em nenhum outro lugar se possa falar. Aquilo que faz sofrer, a fala do
desejo, a fala marcada pela falta. Logo, o analista será o destinatário da livre associação.
Em associação livre o sujeito geralmente diz coisas que não diria a ninguém, e é nesse
momento que o processo analítico toma o rumo do discurso do analista, o analista é inserido
no lugar de objeto, exatamente o lugar do ninguém. Portanto:
No fundo, o analista exerce uma pressão sobre o inconsciente pela
própria oferta que faz de escutar o paciente, escutá-lo na medida em
que diz qualquer coisa – e sabemos que o que diz nunca é qualquer
coisa –, e essa qualquer coisa o conduz à zona que imaginamos no
mais profundo, onde estaria escondida sua libido. (MILLER, 1988, p.
63)
O analista é colocado no lugar da aparência do “a” é, pois produto desse dizer, seu
dejeto. Dizer contingente que, no trabalho analítico, torna-se necessário. Ao mesmo tempo,
esta transformação da contingência em necessidade de dizer da associação livre leva-nos à
tese lacaniana do sujeito suposto saber.
O surgimento desse sujeito suposto saber é correlato ao objeto a, do qual o analista
segundo QUINET (2005) irá estabelecer a transferência no registro do saber através de sua
suposição, ou seja, de uma delegação àquele que é seu alvo de um bem precioso que causa o
desejo, causando, portanto, a própria transferência. Portanto, uma coisa foi definitivamente
aceita segundo SILVESTRE (1991), é que nenhuma psicanálise escapa à transferência.
“Imago”1 é um conceito sobremaneira útil, principalmente quando se pensa ao tratar e
definir o lugar que o analista ocupa na transferência, ou seja, de acordo com Silvestre, o
médico é introduzido em uma série, e pode ser identificado à imago materna, mas também à
imago do irmão, à imago do pai. (SILVESTRE, 1991, p. 62) É no equivoco provocado pela
1 De acordo com LAPLANCHE, J e PONTALIS, J. B. (2001), tal termo se refere ao protótipo inconsciente de
personagens que orienta seletivamente a forma como o sujeito apreende o outro; é construído a partir das
primeiras relações intersubjetivas reais e fantasística com o meio familiar.

imago que SILVETRE (1991) ressalta que, quando Freud é obrigado a reconhecer que a
transferência comporta uma vertente de resistência, descobre que, para além da repetição que
empresta ao analista traços da imago infantil, existe uma presença do analista.
Pois se a transferência ainda segundo SILVESTRE (1991), não pode reduzir-se
totalmente, dissolver-se nas coordenadas do retorno do significante, é preciso que o analista,
nesta transferência, seja também real.
Ou seja, se na dinâmica da transferência o analista empresta sua pessoa para encarnar
o sujeito suposto saber, transferência essa que é definida por Lacan como sendo o amor que se
dirige ao saber. No entanto, sua finalidade, como a de todo amor, não é o saber, e sim o objeto
causa do desejo. Esse objeto (o objeto a) é o que confere à transferência seu aspecto real: de
do sexo. Trata-se aqui da vertente da transferência como colocação em ato da realidade
sexual do inconsciente . (QUINET, 2005, p. 29)
Desse modo podemos afirmar que, a demanda dirigida ao analista em posição de
sujeito suposto saber apresenta-se como demanda de transferência de saber.
Enfim, do processo analítico, Silvestre descreve que:
Para que haja demanda de analise é preciso que esse sofrimento faça
signo para o sujeito, signo de um Outro cujo saber faria desse
sofrimento uma significação. O sujeito que demanda uma análise já
sabe que seu sofrimento não é só pergunta, é já uma resposta – o que
Freud indica ao situá-lo como compromisso. O que o analisante
demanda é receber a significação de um signo que supõe que o Outro
lhe dirige, tendo o saber a função de mediatizar essa significação.
(SILVESTRE, 1991, p. 74)
Em outras palavras, o saber é, antes de tudo, pressuposto do analista, uma vez que o
sujeito suposto saber, fundado através dos fenômenos da transferência, não traz ao analisante
nenhuma certeza de que o analista saiba tudo, ao contrário, que esse saber tão suposto é
duvidoso. Um dos efeitos da relação do analisante para o analista sujeito suposto saber é o
amor de transferência, o qual surge a partir da transformação da demanda transitiva (demanda
de algo que se quer ver livre – como o sintoma por exemplo) na demanda intransitiva
(demanda de amor, de presença constante, uma vez que o amor demanda amor da parte do
Outro).
Assim, conforme mostra o autor, o amor enquanto efeito da transferência é visto sob o
aspecto da resistência ao desejo como desejo do Outro. Por isso, quando emerge o desejo sob
a forma de questão, o analisante responde com amor; cabendo ao analista nessa situação, fazer
surgir na demanda à dimensão do desejo que está relacionada ao sujeito suposto saber, que o

fazendo responder, abre caminho para a emergência do sujeito suposto desejar, formando
então a articulação com a função sintomal, que de acordo com QUINET (2005), faz aparecer
à dimensão do desejo e como desejo do Outro, levando o sintoma à categoria de enigma pela
ligação implícita do desejo com o saber.
Portanto, não basta apenas a demanda de se desvencilhar de um sintoma, pois é
necessário que este apareça ao sujeito como um ciframento, algo a ser decifrado na analise via
transferência, intermediada nesse contexto pelo sujeito suposto saber representado pela figura
do analista.
Contudo, o estabelecimento da transferência no registro do saber através de sua
suposição é correlata à delegação àquele que é visto como seu alvo de um bem precioso que
causa desejo e paralelamente à própria transferência. Para Lacan, é nesse tempo preliminar à
analise que acontece um tipo de interpretação do analista, conhecida como retificação
subjetiva, a qual introduz a dimensão ética do desejo como um forma de resposta à patologia
do ato que a condição da neurose tenta escamotear.
O momento da retificação subjetiva consiste no trabalho do analista em indagar sobre
a participação do sujeito no arranjo de seu sintoma, para que possa pensar na implicação do
desejo do Outro naquilo que tenta responder. Na verdade, o trabalho da retificação subjetiva
proposta pelo analista é de introduzir o sujeito em sua responsabilidade na escolha de sua
neurose e em sua submissão ao desejo como desejo do Outro. A retificação subjetiva aponta
que, lá onde o sujeito não pensa, ele escolhe; lá onde pensa, é determinado, introduzindo o
sujeito na dimensão do Outro. (QUINET, 2005, p. 34)
Portanto, o processo analítico e o tratamento do sintoma na psicanálise só começam a
partir da retificação subjetiva e a partir daí, o desenrolar da análise propriamente dita. Assim,
o psicanalisante, aquele que associa livremente, aceita submeter-se a uma palavra que
extrapola o senso comum. (MARTINS, 1994, p. 16)
Ao psicanalista cabe então, ter anteriormente deslanchado seu lugar na transferência e,
portanto, assistir ao processo interessado: acompanhando, pontuando, interpretando e
esperando e, na medida em que as dificuldades são adequadamente interpretadas,
concomitantemente, observa-se à remoção (eliminação) da transferência. A partir desta
remoção, o mundo interior vai se tornando audível e, ao se tornar audível, torna-se visível,
captável e, ao se tornar captável, torna-se também transformável, operando-se desta forma,
uma reorganização de si mesmo e, provavelmente, uma reversão do quadro clínico: a cura.
Passemos enfim, às considerações finais.

Considerações Finais
Esperamos ter alcançado nosso propósito neste trabalho, pois, essa era nossa intenção.
A lógica dos nossos dizeres, foi exatamente da ordem da compreensão e da importância dos
tramites do processo analítico propriamente dito.
Vimos em Freud e em Lacan que, no processo analítico, a relação do sujeito com o
saber inconsciente, é uma vertente essencial para calcular, localizar e situar a transferência. O
analista estará ali para favorecer essa relação, ele atua para que o sujeito se conecte com o que
chamamos de inconsciente.
Freud coloca que desde o início do tratamento analítico, a transferência aparece, como
a arma mais forte da resistência, e que podemos concluir que a intensidade e persistência da
transferência constituem efeito e expressão da resistência.
Então, podemos dizer que, é o que resiste em não aparecer, ou seja, no que
insuportável é para o sujeito, que o analista irá se ater. Portanto, o analista deverá se ocupar
no próprio inconsciente do sujeito, melhor dizendo, fazer parte do inconsciente do analisante.
Para a ocupação deste lugar, o analista é convocado a ser uma espécie de provedor
para as conexões do inconsciente do sujeito. Ou seja, o analista abre mão de seu eu narcísico,
fazendo um semblante, logo, consentindo desse lugar de objeto, de uso e fruto do inconsciente
do sujeito. E desse modo, o saber ficará no lugar do sujeito, ao qual Lacan também chama de
lugar da verdade.
A perspectiva de Lacan, é que o analista obrigue o sujeito a ceder o lugar da verdade, a
abandonar sua suposição, para se pôr a trabalhar enquanto sujeito barrado.
Vale ressaltar, que essa tal verdade do sujeito, é algo do insuportável, ou seja, que por
isso foi trancafiada, recalcada no inconsciente.
O surgimento do inconsciente, é o grande propósito do tratamento analítico, embora
que, às vezes parece um semear (significantes) em terras áridas (má escuta), visto que, não é
nada fácil localizar no discurso do sujeito, os significantes que falam do mesmo. Pois, é pela
via da transferência que, ficará mais viável à identificação dos significantes, isso se, como já
dito acima, o analista deve se colocar no lugar de objeto, ficando somente a mercê da escuta, e
lógico, utilizando a todo o momento sua douta ignorância.
Para o analista tolerar e se manter neste lugar, sem ser atropelado pelo seu próprio eu
narcísico, é exatamente a condição sine qua non que se exige no processo transferêncial. O ato
psicanalítico primeiro, como questão colocada no primeiro capítulo, é suportar a

transferência, já que amiúde tais circunstâncias tendem para uma situação na qual, todo
conflito deverá ser combatido na esfera da transferência.
Lacan coloca o analista na dimensão do Outro, não obstante, ainda afirma que, o
analista, prestando-se a esse lugar do Outro para o sujeito, faz com que, através da associação
livre, o inconsciente se presentifique e possa ser decifrado pelo próprio sujeito.
Então, do processo analítico, espera-se que o sujeito conheça os significantes
primordiais que o determinaram em sua história em sua vida a partir da decifração do
inconsciente, para que possa deles se desalienar escapando de seu poder de comando.
Mas é importante lembrar que para Lacan, o Outro se apresenta como inconsistência e
inconsciência. O inconsciente é o discurso do Outro, sendo que para o neurótico, ele é
barrado, porque há uma inscrição da falta no Outro, o que o torna inconsistente. É justamente
por haver uma falta inscrita no Outro que o Outro diz respeito ao desejo do sujeito, pois é ao
nível do que falta no Outro que sou levado a buscar aquilo que me falta – o que me falta como
objeto de meu desejo.
É preciso ficar claro então que, para Lacan, o Outro é o lugar de significantes, mas
também o lugar onde se institui o Outro da falta, pois falta o significante que o definiria como
uma totalidade.
É na sutileza da escuta e na aparecia do saber, que se constitui o analista. É ter a
consciência, de que o analisante irá eleger o analista por uma imago da mãe, imago do irmão,
imago do pai, ou seja, o Outro que faltou no passado. Lacan afirma que, o inconsciente é o
significante em ação e a verdade tem estrutura de ficção, assim podemos explicar as chamadas
imagos.
Enfim, o analista, na transferência, ocupa para o sujeito o lugar do Outro em sua
versão imaginária, das figuras parentais infantis. A transferência então, é uma relação
essencialmente ligada ao tempo e manejo. E por conseguinte, a entrada em análise dependerá
desse sujeito: sujeito do inconsciente, e esse deverá desvendar o próprio inconsciente, a
verdade de seu desejo, a partir de seu discurso.

Referências:
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Monografia